MADEIRA MORTA

 Matéria traduzida e publicada com autorização do autor Sergio Martinez, o texto original pode ser acessado através do link abaixo:
http://cartagenabonsai.blogspot.com.br/2014/04/trabajando-la-madera.html 

Nos últimos anos o bonsai tem vivido uma revolução especial graças ao trabalho de grandes mestres, como Masahiko Kimura, que estabeleceram tendências combinando harmoniosamente a parte viva da árvore com madeira morta e conseguindo resultados espetaculares. Vou tentar mostrar neste artigo como trabalhar com sucesso a madeira morta do seu bonsai. São pequenas notas sobre as diferentes técnicas a serem usadas.

No trabalho de madeira morta, como em quase tudo no bonsai, existem várias escolas com muitas críticas recíprocas. Há aqueles que baseiam o seu trabalho em ferramentas mecânicas e há aqueles que preferem trabalhar quase exclusivamente de maneira mais artesanal baseada em alicates de jin, burin, formão, martelo e escova. São muitas as técnicas e ferramentas que podemos ter à nossa disposição, é bom conhecê-las todas e poder aplicar a certa de acordo com o trabalho a ser realizado. O mais importante é conseguir um bom equilíbrio entre a parte viva e a morta e, sobretudo, transmitir o dramatismo e naturalidade em nosso trabalho.É impressionante a textura e acabamento adquiridos pela madeira de forma natural ao longo dos anos e a exposição às intempéries meteorológicas. Abaixo o exemplo em uma amendoeira. Nosso objetivo não deve ser outro senão tentar imitar o trabalho da natureza.

Mas antes de conhecer as ferramentas e técnicas é mais importante saber o que nunca devemos fazer quando trabalhamos com madeira morta (imagens abaixo):

 

Aspectos imprescindíveis:

•      A madeira morta deve manter um equilíbrio com a parte viva e com todo o conjunto do bonsai; 
•      Nosso trabalho deve transmitir naturalidade. O resultado final deve parecer o desgaste decorrente do efeito do sol, chuva, vento, frio, calor e acima de tudo algo gerado ao longo dos anos;
•      Devemos evitar traços simétricos ou muito suaves. Deve ser um trabalho desordenadamente ordenado;
•      É necessário estudar o movimento natural dos veios da madeira e não ir contra esse movimento. Os resultados seriam catastróficos;
•      Não devemos negligenciar a madeira morta uma vez trabalhada. Você precisa limpá-la e protegê-la a cada temporada. Especialmente as madeiras mais macias;

Principais técnicas:

À base de Alicates para jin, burin, formão, martelo e escova.

Esta técnica consiste em ir descascando gradualmente a madeira seguindo os veios da madeira e conseguindo um acabamento muito natural. Com um formão e martelo a madeira é rompida nas áreas que queremos reduzir e com a ajuda de alicates para jin os pedaços de madeira são arrancados. Podemos nos valer também nesta técnica de burins. A principal desvantagem desta técnica é que as raízes podem ser danificadas no processo ao transmitir tantos golpes e trancos para o bonsai. O tronco deve estar firmemente amparado para se movimentar o mínimo possível. Além disso, esta técnica não permite ao artista a definição de detalhes refinados.
 

Desbastadoras e Fresadoras

É uma técnica bastante impopular entre os bonsaistas mais puritanos, uma vez que é difícil dominar esta técnica para alcançar resultados quase naturais. Há uma variedade enorme de fresas, brocas e discos de desbaste no mercado à nossa disposição de acordo com o nível de definição que desejamos alcançar. É uma técnica com a qual podemos conseguir resultados tremendamente espetaculares em muito pouco tempo, mas devemos trabalhar com a mentalidade de imitar a natureza e deixar-nos levar pela dureza, textura e movimento da madeira em que estamos trabalhando. É uma técnica especialmente indicada para pequenos trabalhos de madeira em que é muito importante alcançar um alto nível de detalhes em um espaço muito pequeno, mas também pode ser usada em trabalhos maiores desde que se trabalhe corretamente. O ideal é começar com ferramentas com maior capacidade de desbaste e diminuir progressivamente até terminar com uma boa escovação.

VER VÍDEO:  
 https://www.youtube.com/watch?v=QPEDMRuKqiw

Definição e limpeza da madeira

Seja qual for a técnica que usemos o próximo passo deve ser sempre a mesma técnica. Devemos eliminar as imperfeições do nosso trabalho à base de uma boa sessão de escovação, pode ser uma escova manual ou acoplada a ferramentas elétricas. É sempre aconselhável pulverizar as áreas a serem escovadas com água. Os resultados serão muito melhores do que se fizermos à seco. Há quem use água com sabão, mas eu prefiro fazê-lo com água apenas. O fogo também pode ser usado por meio de um maçarico para remover fibras e restos de madeira podre em áreas onde é difícil alcançar com a escova.

A escovação pode ser a técnica mais disponível para nós, mas devemos ter em mente que existem outras técnicas para limpar e manter madeira com resultados quase mágicos, como jato de areia ou micro jato de água sob pressão. Nestes casos, os resultados são espetaculares. 

Manutenção 
  
O trabalho não termina aqui. A limpeza da madeira deve ser um trabalho para rever todas as estações e que podemos planejar, por exemplo, no inverno e em pleno verão, épocas em que pouco trabalhos podemos fazer com o nosso bonsai. Devemos monitorar as partes podres e limpar a madeira para evitar que a degradação avance sempre com escovação contínua ou se estiver ao nosso alcance por meio do jato de pressão.
Na manutenção da madeira do nosso bonsai também há controvérsia sobre o uso ou não de produtos de "branqueamento". Estamos falando sobre o polissulfeto de cal que provou ser um aliado excelente para os bonsaístas protegerem a madeira de nossas árvores com a adição que lhe conferir uma cor branca característica que faz destacar ainda mais da parte viva. Certamente é um acabamento que transmite pouca naturalidade e é mais adequado esteticamente para juníperos e pinheiros. Enquanto que para árvores de folhas caducas os resultados não são nada apropriados, para este tipo de árvore uma escovação contínua deve ser suficiente para a manutenção da madeira. Você também pode aplicar corantes, como cinzas ao polissulfeto de cal para mitigar a chamativa cor esbranquiçada. Devemos encontrar um equilíbrio entre a proteção e manutenção da madeira com a naturalidade do trabalho.

Outro aspecto essencial na manutenção da madeira é de assegurarmos que um lábio de cicatrização seja gerado na zona de transição entre a parte viva e a parte morta. É de vital importância monitorar este aspecto porque pode acontecer que onde acreditamos que existe uma veia viva na verdade a parte morta está avançando. Nestes casos, é melhor fazer uma nova ferida limpa e concisa para garantir que a cicatrização ocorra.

 

É, sem dúvida, uma técnica fascinante e vou lhe mostrar algumas das minhas obras (abaixo). Permite a transformação de materiais sem atrativo algum em peças exclusivas. Por exemplo, esta simples Oliveira:

 

Outros exemplos: