Kings Bonsai

TÉCNICAS DE YAMADORI


Matéria traduzida e publicada com autorização do autor, o texto original pode ser acessado através do link abaixo:
http://cartagenabonsai.blogspot.com.br/2013/11/yamadori-techniques.html

Acrescentei algumas considerações que achei importante.

"Yama" (montanha) e "Tori" (tomar). Da união dessas duas palavras japonesas vem o termo popular em bonsai "yamadori". Literalmente, significa "tomar da montanha" ou "extrair da montanha", NUNCA  no sentido "RECUPERAR".



Soa mais benevolente e ecológico "recuperar" que "tomar". A verdade é que traduzimos conforme nossa vontade e interesse, é verdade também que esta técnica bonsaística está sempre cercada de controvérsias porque, infelizmente, são muitos os que lucram com a exploração da natureza não se importando com as baixas pelo caminho (exemplares que não sobrevivem). Outros não são movidos pelo lucro, mas pelo ego. O yamadori permite ter em casa exemplares majestosos que foram trabalhados e esculpidos pela natureza. Cerca de 95% do resultado final desses bonsai não é mérito nosso, mas sim da natureza. O problema que o nosso desejo de ter belos exemplares em nossos expositores nem sempre são acompanhados por uma sobrevivência bem sucedida. Parafraseando Armando Dal Col (bonsaista renomado na Espanha) "A técnica de Yamadori deve ser feita com cautela, porque, infelizmente, os "cadáveres" de árvores manipuladas erroneamente durante a sua remoção acumulam na nossa consciência".
A técnica de Yamadori de plantas da natureza pode ser justificada apenas quando a vida da árvore pode estar em perigo. Seja pela construção de estradas, zonas de corta fogo entre uma mata e outra, construções de obras, etc e sempre com autorização. Vamos acabar com essa imagem de bonsaista furtivo ou destrutivo. Conforme já dito, Yamadori não é "recuperar", tampouco deve ser "roubar". Não vamos nos alongar aqui no mérito do sentido destrutivo de coletas de plantas que pela análise prévia das condições de extração e debilidade de raízes antes da coleta dificilmente sobreviveriam ou da realização de coleta forma ilegal (sem autorização), isso é pessoal e de responsabilidade de cada um. Ser uma pessoa correta é uma questão de caráter e quem tem tem quem não tem, infelizmente, não são palavras que vão convencê-la do contrário. O objetivo deste artigo é dar diretrizes para minimizar os riscos e alcançar o sucesso nesta operação delicada. 
Encontrar um exemplar adequado na natureza ou em outro local que reúna boas características para criar um bonsai não é fácil, mas uma vez localizado um bom exemplar a pergunta é: Pode ser extraído com sucesso?
 
Parâmetros a considerar: 


Substrato: Arenoso, argiloso ou rochoso;
Vigor da planta;
Estado e profundidade das raízes;
Estrutura da parte aérea;

Vamos a eles:




Substrato: Arenoso, argiloso ou rochoso;
Sabendo que as espécies se comportam de maneira diferentes em relação a emissão de raízes, ramificações, necessidades fisiológicas, etc. e levando em conta apenas o tipo de solo onde determinada planta se encontra, então desses 3 tipos de substratos é certamente muito mais difícil trabalhar em um solo rochoso. As raízes crescem abraçando as rochas dificultando enormemente a extração, além da dificuldade de acesso às raízes o dano às mesmas é quase certo por conta do excesso de tempo, esmagamento pelos equipamentos utilizados, as raízes são compridas e precisam ser comprimidas para o transporte, entre outras dificuldades.

Vigor 
O lógico seria pensar que uma planta que cresce forte e de aparência vigorosa seria um excelente candidato para retirá-lo com sucesso, entretanto nem sempre é assim. Uma planta nestas condições está se movimentando seiva com grande força e tal operação seria extremamente arriscada. Já uma planta que parece estar em condições limitadas de sobrevivência pode responder muito bem a extração e envasamento onde são melhoradas as suas condições ambientais e especialmente hídricas. O estado da planta é, portanto, uma condição bastante complexa nestes casos. 

Estado e profundidade das raízes
Continuando vamos desmentir outro mito a que nos leva a nossa lógica. Todos tendem a pensar que ao se sacudir o tronco de uma planta e esta mover até as raízes então vai ser fácil para arrancar. No entanto, se ele dificilmente se move é porque ele está fortemente ancorado e será muito difícil de se extrair. ISSO É COMPLETAMENTE ERRÔNEO. Normalmente quando se deslocam é porque suas raízes são muito compridas e está ancorado muito abaixo. No entanto, se ele dificilmente se move é porque ele está firmemente ancorado não muito profundo, o que é favorável para o nosso objetivo. Para ter sucesso, devemos ter raízes finas na parte superior. Se nós não temos raízes finas, deveremos consegui-las. Na continuação explicarei como.
 
Parte Aérea

Obviamente temos que ter a "massa verde" o mais baixo possível. De acordo com a espécie isso é mais ou menos complicado de conseguir. Tudo depende de como responda a poda. Nós sempre podemos recorrer a baixar os galhos com arame, porém enquanto ainda está no solo podemos começar a preparar a parte aérea pouco a pouco para ir compactando-a. É muito importante saber que o fato de ir podando e compactando a "massa verde" estimula o aparecimento de pequenas raízes finas na parte de cima, próximo do topo do solo . É importante deixar sempre um galho de sacrifício para puxar o crescimento e ajudar a síntese de auxina de maneira natural pela planta. A auxinas são sempre sintetizadas nos ápices das plantas.



Como uma imagem vale mais que mil palavras vejamos a simulação de extração de uma planta:

Vamos partir destes dois casos abaixo:
Na foto acima a planta possui raízes finas muito abaixo. No meio de pedras, de difícil acesso e que seriam muito danificadas durante a coleta, dificultando a sua recuperação e sobrevivência.

Já essa planta dessa outra foto acima tem muitas raízes capilares (finas) no topo, sinônimo de sucesso.
  
Devemos então trabalhar as raízes mais grossas da parte de cima para forçar o aparecimento de raízes finas nelas. Esta operação deve durar o suficiente. Nunca menos. Alguns meses, um, dois, três anos. O tempo não é importante se quisermos ter sucesso.


O primeiro passo será cavar em torno da base da árvore até conseguir descobrir o nascimento das raízes. Então se faz pequenas feridas na raízes grossas e aplica-se hormônios de enraizamento. O ideal é trocar o substrato por uma mistura por exemplo de areia,esfagno, caco de telhas. Esta mistura irá ajudar a aumentar a capacidade de retenção de água na área, o que favorece o aparecimento de raízes. Se não podemos regar com frequência temos que usar a nossa engenhosidade. Há pessoas que usam gotejadores médicos ou simplesmente usar garrafas de refrigerante com um pequeno furo na tampa para a água ir caindo lentamente.

 
 

Após decorrido o tempo necessário será possível a retirada da planta com uma quantidade de raízes que possam assegura a sua recuperação e sobrevivência.



Quando é a época ideal? 
Como regra geral, a época ideal é logo quando a planta começa a entrar em fase vegetativa. Isto é início da primavera e no fim do verão. Um fator visual deste acontecimento é que as gemas começam a inchar, ou seja, nas pontas dos galhos e nas axilas entre os galhos e o pecíolo (talinho) das folhas começam a aparecer uns caroços. Com o passar dos dias esses caroços (gemas) vão aumentando até que as folhas se abrem e crescem até atingir o tamanho final. Quanto mais cedo for percebido isso e realizado o Yamadori melhor será a recuperação da planta. Se a coleta for realizada quando a brotação já tiver atingido o ponto de folhas novas, sem amadurecerem, é muito provável que essas folhas não sobrevivam e toda essa brotação se perca. 

Com o solo molhado ou seco?
 
Meio termo. O ideal é aproximadamente uma semana após um período de chuvas. Quando já não há tanta lama e a planta começou a ativar o crescimento graças a esta água. A verdade é que cada professor tem seus métodos e alguns preferem retirar com solo seco.Deve-se cavar uma trincheira ao redor do torrão de raiz e ir podando as raízes grossas que vão aparecendo e que estão fora do perímetro desse torrão. É muito importante travar a perda de seiva pela poda radical com a prática de "torniquetes" nos cortes maiores. A vedação feridas é feita com pasta cicatrizante e cobrir essa ponta com esfagno protegido por um saco de "juta" ou material semelhante, amarrar o referido saco firmemente com arame para atuar como um torniquete. Esse processo ajuda a manter a pasta cicatrizante no local desejado além de favorecer o aparecimento de raízes no local. Não é necessário a retida do saco porque com o tempo há o apodrecimento do mesmo e as raízes novas conseguem passar pelos furos das tramas e chegar ao solo sem maiores dificuldades.


 


A próxima etapa para preservar as raízes ainda no local da coleta é umedecer o torrão com um pulverizador e, se possível, colocar um pouco de esfagno por cima do torrão e proteger com um saco de juta. Esta operação deve ser executada com rapidez e precisão. Amarrar firmemente o torrão com o saco de juta de modo que não se desfaça e planta estará preparada para o transporte. Pode ser utilizado qualquer outro material em substituição ao saco de juta como por ex. lençol, tolha, saco plástico resistente, etc.




Abaixo podemos ver as principais ferramentas que precisamos, pode ser que nem todas sejam utilizadas, mas é melhor tê-las à mão do que precisar delas e não ter.




O transporte deve ser realizado o mais rápido possível e molhar o novamente o substrato e a parte aérea se houver qualquer tipo de atraso. Evitar a exposição solar e se a umidade do ar estiver muito baixa pode ser o caso de proteger com um plástico a massa verde até chegar a casa. 

Em casa já deve ter um recipiente adequado para o plantio. Deve ter um volume muito maior do que o volume do vaso de bonsai definitivo. Neste momento o ângulo de plantio não é tão importante. O principal é para garantir a sua sobrevivência. O projeto será algo futuro, depois da planta já recuperada. Isso porque nem sempre é possível salvar todos os galhos desejados, podem não ocorrer brotações onde queremos, acidentes podem ocorrer durante o período de recuperação, etc. Podem ser usados caixas de madeira, poliestireno, vasos de barro, caixas de frutas ou de vasos de plástico, mas com bastante furos de drenagem e, se possível, inclusive nas laterais para melhorar a aeração do substrato.

Fase de enraizamento

Quanto ao substrato, devemos preparar uma mistura com alta capacidade de aeração e troca de nutrientes. É extremamente aconselhável utilizar uma mistura de dois ou mais dos seguintes substratos: areia grossa,pedrisco,caco de telha,terra granulada (não é terra comum), diatomita, argila expandida. É aconselhável aplicar hormônios enraizantes.




No caso das Juniperos é bastante comum que nas primeiras fases a planta amarele a copa, faz parte do restabelecimento. É aconselhável tratamento semanal com algum fungicida via radicular porque a planta nessa fase está bastante vulnerável



O ideal seria colocarmos a planta em um ambiente com umidade controlada. Não fornecer umidade em excesso. Isso só iria causar o apodrecimento e dormência da árvore. O melhor seria uma estufa na qual a temperatura não fique abaixo de 15ºC e umidade entre 60 e 80%. Mas são valores que dependem da espécie trabalhada.  Como isso é algo muito caro e técnico, podemos fazer a vaporização de toda a parte aérea algumas vezes por dia com um pulverizador manual para manter as folhas hidratadas. É importante proteger o substrato para que a água pulverizada nas folhas não encharque o mesmo, nesse período o substrato deve estar levemente úmido, mas nunca com excesso de água.
Em oliveiras, por exemplo, é utilizar uma técnica curiosa. Elas são colocadas em pleno sol e cobertas por um saco de plástico preto. Isto aumenta a temperatura e umidade promovendo a brotação. 
No caso de plantas de folhas caducas, no Japão alguns bonsaistas, uma vez retirada da montanha são totalmente enterradas (incluindo a parte aérea) por alguns meses. Depois as desenterram e mostram um início de atividade tanto de raízes quanto da parte aérea. Isso deve ser porque essas plantas passam uma parte do ano totalmente cobertas por uma camada de neve e somente quando chega a primavera a neve se derrete e a planta inicia o seu ciclo de brotação novamente, o fato de enterrar simula esse período de dormência.






Uma vez que a planta começa a mostrar atividade emissão de (brotos novos e crescimento dos mesmos) e as condições ambientais permitam devemos por pleno sol progressivamente, ou seja, ir expondo a planta aos poucos ao sol, seja usando a principio uma tela de sombrite, seja expondo por umas duas horas por dia e ir aumento o tempo com o decorrer dos dias, tudo depende da observação atenta de como a planta está reagindo a essa exposição. Se as folhas não se desidratarem ou murcharem pode continuar aumentando a exposição ou até mesmo deixar direto a plenos sol, se reagir mal, o ideal é deixar mais um tempo na sombra ou meia sombra.A partir daqui começa a fase de estabelecimento. A sua duração depende do estado de saúde da planta. É aconselhável deixar pelo menos dois anos antes de iniciar o trabalho como uma árvore bonsai. Isso não significa que não possa ser realizado podas para conter o crescimento de alguns galhos considerados estratégicos para o desenho final da planta, o mais importante é que a planta sempre ganhe vigor porque isso vai significar também a recuperação das raízes. A manutenção do vigor pode ser obtida por um ou mais galhos de sacrifício deixados estrategicamente para este fim, mas cuidado, não faça nenhuma intervenção, mesmo que pequena, quando estiver ocorrendo a primeira brotação. Nesse momento todo cuidado se faz necessário.



 Durante todo este processo devemos controlar nossa impaciência.Dependendo da planta e das suas características a pressa pode ter um custo muito alto.


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